Cultura ao corpo perfeito
Houve todo um movimento de liberação das mulheres, para que conquistassem os mesmos direitos dos homens. Elas queriam acabar com o machismo e o sexismo. Fizeram uma revolução, da qual colhemos muitos frutos. Mas onde nós, mulheres, nos encontramos agora?
Parece que viramos escravas do nosso corpo. Para sermos consideradas bonitas, bem-sucedidas, felizes e amadas temos de ser magras. Mas não uma magreza comum. Temos de ser esqueléticas, sem nenhum grama de gordura, a barriga deve ser reta como uma tábua.
Revistas de moda, revistas femininas, revistas de fofoca, todas exibem mulheres extremamente magras nas capas, muitas vezes vestidas em trajes sumários ou simplesmente despidas. Além disso, trazem dicas de exercícios e dietas milagrosas. Afinal, existe um padrão a ser seguido.
Tive um filho há um ano. Engordei apenas 8,5kg. Já cheguei praticamente ao peso do início da gravidez. Faltam apenas dois que insistem em permanecer. Fiquei com gordura localizada na barriga e na cintura.
Para os padrões de alguns anos atrás eu continuaria sendo considerada magra com os meus 53 kg, 1m61cm e manequim 40 (não consegui chegar ao 38, ainda). Mas, outro dia, estava com uma amiga e ela me perguntou:
- Porque não faz uma lipo? Isso some rapidinho.
Ela trabalha com um cirurgião plástico e afirmou que o procedimento é "simplérrimo" e o resultado, maravilhoso.
Confesso que fiquei tentada a me consultar com o tal médico. Por um momento fugaz imaginei-me magrinha sem gordura, de volta ao meu corpo da adolescência. Quase sucumbi à ditadura da magreza e aos padrões da moda...
Depois, porém, caí em mim. É uma cirurgia. não há nada de "simplérrimo" em uma cirugia. Estaria eu disposta a correr um risco desnecessário para ter uma cintura mais fina e menos barriga?
A resposta obiviamente foi não. Não vale a pena. Não quero correr o risco de morrer ou ficar seqüelada. Também não quero passar pelas dores de um pós-operatório, durante o qual nem poderia segurar meu filho...
Acho que para sermos bonitas, não precisamos seguir o padrão de beleza ditado pelo mundo da moda, da TV e do cinema. Temos de respeitar os limites do nosso corpo, cuidar da saúde e vivermos bem dentro de nossas peles.
Sou vaidosa, sempre fui. Gosto de estar bonita, me vestir bem, ser elogiada. Quem não gosta? Mas para isso, não vou comprar a propaganda de que é "simplérrimo" acabar com a gordura e com os quilinhos insistentes que permanecem depois da gravidez.
Não é "simplérrimo". Não é "rapidinho". E acima de tudo: não é uma lipinho que resolverá os meus problemas e me fará mais feliz.